Escrever sobre poupança é complicado, principalmente nesse tempo de crise financeira. Mexe com uma “instituição” de confiança de mais de metade da população brasileira. É complicado, também, porque envolve conceitos que estão encravados na cabeça de boa parte das pessoas. O motivo é muito simples: no país, poupança virou sinônimo daquele subproduto da conta-corrente, um puxadinho para o qual é fácil transferir o dinheiro e dizer para quem quiser ouvir que você está investindo ou… poupando.
Os benefícios da outrora chamada “caderneta de poupança” não param por aí: assim como é barbada enviar dinheiro para ela (você precisa apenas de R$ 1), é fácil de trazê-lo de volta. Os especialistas chamam isso de liquidez, ou seja, a velocidade e a facilidade com a qual um “ativo” (por exemplo, um imóvel) pode ser convertido em caixa (dinheiro). Então, a poupança tem muito mais liquidez do que a sua casa de praia, por exemplo.
Além disso, ela é isenta de impostos e de taxas de administração, e ainda tem garantia do governo. Significa que, se o banco quebrar ou fizer falcatrua com o seu dinheiro, você receberá até R$ 250 mil de volta. Parece um negócio da China, não? Mas não é, trata-se de uma mania que o brasileiro teima em não perder, dada a sua aversão ao risco, a pobre educação financeira e décadas e mais décadas sendo castigado pela nossa claudicante economia.
Nadica de nada
O fato é que a poupança, aquela do banco, deixou de ser um bom negócio. Basta analisar o seu desempenho nos últimos anos: desde 2010, ela tem servido apenas para repor a desvalorização que o seu dinheiro sofre com a inflação. No ano passado, a “caderneta” rendeu 0,63% (descontada a inflação). Em 2013, foi pior: 0,43%. Ou seja, a sua poupança rendeu “nadica de nada”. Agora, uma observação importante: estamos considerando a inflação oficial e não aquela que você sente toda vez que vai ao supermercado. Aí, o prejuízo é garantido.
Não por acaso, a poupança foi considerada o segundo pior investimento de 2014 em um ranking elaborado pelo jornal Folha de São Paulo. Ganhou somente dos fundos de ações livre, a opção que o pequeno investidor tem para aplicar na bolsa. Naturalmente, ganha também do péssimo hábito de deixar dinheiro parado na conta-corrente, ou, pior ainda, debaixo do colchão. E fica por aí. Então, vamos fazer um acordo: a partir de agora, diga que você quer ou vai “fazer uma poupança” quando estiver se referindo a guardar um dinheirinho. Da “caderneta”, fique longe, pelo menos por enquanto.
Empreendedorismo como alternativa
Pelo menos por enquanto, porque, como tudo, o sistema econômico e financeiro funciona por ciclos. Pode ser que um dia volte a valer a pena aplicar na poupança, mas, hoje, há alternativas bem mais atraentes. Os mais recomendados aos pequenos investidores são os títulos públicos (talvez você conheça pelo nome de “Tesouro Direto”), os Certificado de Depósito Bancário (CDB) e Fundos de Renda Fixa. Todos cobram taxas de administração e tributação, mas remuneram bem mais do que a poupança, chegando a 10% ao ano.
Mas a proposta deste artigo é oferecer uma outra alternativa: que tal investir em uma franquia? Que tal utilizar este dinheiro que está parado em sua poupança para realizar o sonho de montar o próprio negócio? Parece estranho sugerir a substituição de um investimento pelo empreendedorismo, não? Pois é justamente o que muita gente está fazendo. A crise está afugentando muitos investidores, fazendo-os trocar as oscilações e as incertezas do mercado financeiro pela segurança de uma franquia.
As informações são da própria Associação Brasileira de Franchising (ABF). De acordo com a entidade que rege o setor no país, a procura proveniente de empreendedores de primeira viagem no segmento de franquias cresceu 20% nas últimas semanas de 2014 e nas primeiras de 2015. O período coincide com as semanas entre as eleições e a posse do novo governo, quando a crise ficou mais visível. O interesse foi ainda maior em determinados segmentos. Por exemplo, a procura pelo setor de alimentação, considerado imune a crises, cresceu cerca de 40%.
Franquias mais baratas
A tendência também inclui o aumento da procura por modalidades mais baratas de franquias. De dois anos para cá, muitas redes passaram a oferecer versões mais baratas de unidades, como por exemplo nos formatos de quiosques para instalação em shoppings e de food trucks, aqueles veículos adaptados para a comercialização de alimentos em diversos pontos da cidade. Com isso, as necessidades de investimento por parte do candidato a franqueador caíram consideravelmente.
Outros modelos que têm atraído muito interesse são os de microfranquias e franquias virtuais. São versões bastante enxutas que, em muitos casos, podem ser operadas pelo próprio empresário a partir de sua própria residência, sem a necessidade de contratação de pessoal. O resultado é um custo de operação bem mais baixo. Tais modalidades têm atraído não apenas empresários novatos, mas também profissionais que perderam o emprego e sabem que terão muita dificuldade de conseguir outro durante esta crise financeira.
Expectativas ajustadas
Se você se encaixa num dos perfis descritos acima – investidor ou desempregado – ou simplesmente está interessado na abertura de uma franquia, saiba que este mercado está em franco crescimento, mas também que todo o cuidado é pouco. Seria irresponsabilidade escrever que a crise não afeta o franchising, até porque ela diminui consideravelmente a capacidade de consumo da população. A retração ainda é mais visível na classe C, até então responsável pela retomada da economia brasileira nos últimos anos.
Cabe ressaltar que franquia não é emprego e muito menos renda passiva. Possivelmente, você terá que ralar muito para tirar a sua empresa do papel, além de estar sempre presente para motivar os seus possíveis funcionários (lembre-se que é muito provável que eles estejam sofrendo com a crise também). Mas a tendência é que tudo acabe bem, na medida em que optando por uma franquia, você não estará começando um negócio do zero. Estará investindo em uma empresa com anos de experiência e que, provavelmente, já tenha tomado suas próprias medidas de contenção o combate à crise financeira.